Michele Vasconcelos
Eles dançavam alegremente ao som do “pagodão” sem se importar nem um pouco com as grades que os separavam dos convidados da festa. Estes, por sua vez, riam e se divertiam vendo-os dançar daquela forma. Era uma cena trágica se não fosse cômica...
Não posso dizer que fiquei chocada, pois estaria mentindo, na verdade eu estou muito acostumada a ver o contraste entre esses dois mundos e acredito que os convidados daquela festa também. Digo isso porque o que me chamou mais atenção foi como eles riram ao ver os meninos de rua todos maltrapilhos dançando o “tchuco gostoso” como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo. Mas como minha mãe sempre me dizia que alegria de pobre dura pouco, o sinal de trânsito onde eles estavam fechou e logo eles voltaram aos seus postos para pedir dinheiro e lavar o para-brisa do carro de alguém que deixasse e lhes dessem umas moedinhas. Com isso cada um seguiu seu caminho... Eu atravessei a rua e fui para casa, os convidados curtiram a festa e os meninos de rua foram em busca do pão de cada dia.
Vendo toda aquela situação, foi inevitável pensar; será que aquelas crianças vivem em uma miséria tão absoluta que um momento como aquele se torna a grande alegria de suas vidas? Será que já estamos tão acostumados com a situação da pobreza quem nem nos importamos com a vida delas? Ou será que nos acostumamos a simplesmente fingir que o problema não é nosso?
Seguimos a vida com a consciência tranquila de quem paga os seus impostos e não tem culpa se as autoridades não resolvem o problema dessas pessoas. Penso que a maioria de nós ficaria muito satisfeita de apenas não vê-los, se a prefeitura os tirasse das ruas e colocasse em abrigos, se não precisássemos conviver com eles já resolveria o nosso problema, mas qual é o nosso problema?
Recentemente vi uma reportagem numa revista sobre testes feitos com bebês de apenas cinco meses que comprovam que já nessa idade eles têm noções de certo e errado, e que não gostam de brinquedos que fazem mal aos outros.
Diante disso, é fácil saber qual é o nosso problema. Não queremos ver aquelas crianças na rua porque sabemos que elas são o resultado da sociedade injusta que ajudamos a construir, entretanto não fazemos nada para mudar, porque é muito mais cômodo colocar a culpa nos órgãos públicos e nos isentar da responsabilidade.
Mas até quando isso vai durar? Por quanto tempo conseguiremos viver ignorando a miséria que todos os dias bate a nossa porta ou tenta limpar o vidro dos nossos carros?
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