quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Separação

Sara Cohim

Quem inventou o ato de separar pessoas que se gostam, ou nunca gostou de outra pessoa, ou nunca teve que se separar de alguém por quem tinha apreço.

Existem separações e separações. Elas podem ocorrer de formas e intensidades diferentes. Esta semana passei por duas delas. Uma infinitamente mais dolorosa do que a outra, uma dor tão diferente que, por vezes, parece não existir comparação. Uma apenas me tirou a convivência diária com pessoas com quem que vivi um semestre, a outra me levou alguém pra sempre, alguém que esteve ali do meu lado antes mesmo que eu pudesse saber o que é vida.

Era manhã de segunda-feira, as aulas iam recomeçar depois de dois messes de férias. Já sabia que minha antiga turma da faculdade havia sido separada em duas, o que me pareceu um tanto ruim. Algo que chega a ser normal quando nos é empurrado garganta abaixo algo novo.

Acordei na hora certa para tomar banho, me arrumar, tomar café, pegar o ônibus, e chegar à faculdade para ver as novidades a tempo de ver todas as novidades implantadas na sala. Foi nesse momento, antes que quaisquer dos meus pré-planos pudessem ser concluídos que o meu dia sofreu uma mudança drástica. Não peguei o ônibus, não fui para a paralela, não cheguei nem de longe a ver as novidades da sala, pra falar a verdade nem pensava mais na existência de uma sala. Entrei no carro, peguei o caminho em direção à Barra, destino - Hospital Português. Essa mudança, de fato, não me agradou.

Aquela manhã de segunda-feira transcorreu de uma forma torturante. Parecia, a mim, que o tempo estava estagnado no ar, pesando uma tonelada e não parecia querer andar. Ou seria eu querendo parar o tempo para não assistir ao final daquela história? Já não sei responder.

A cada subir de escada, a cada descer de notícias o meu coração ia se apertando em meu peito, a esperança lutava contra o mundo e tentava se manter viva em mim. Em todos ali. Foi quando não consegui segurar em mim a esperança que abri espaço para uma dor teimosa e espaçosa que se apossou de todo o meu corpo.

Doeu mais agudo quando a esperança do retorno de esperança morreu. Tinha acabado. A separação de meu tio foi inevitável. Pra sempre. Por uma distância tanta que não existiam passos que me levassem a ele. Não existia medida entre nós. Só saudade.

Quanto à turma que ficou na sala separada de mim, bem, eles estão ali, no outro corredor. Diante do resto essa separação se diminuiu a nada. Mas a dor de ser separada de meu tio mudou cada segundo de minha vida, doeu sem nome, e nunca vai passar.

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